sábado, 30 de outubro de 2010

Há espaço no mercado para quem é bom, dedicado e sério, diz Hérica Marmo

Adriano Araújo

Hérica Marmo é editora da Sessão Extra do jornal online Extra, onde trabalha há 12 anos, e autora dos livros A vida até parece uma festa, biografia do grupo de rock Titãs, e A canção do Mago, biografia musical do escritor Paulo Coelho. Formada pela Universidade Federal Fluminense em 1997, a jornalista vai estar na Controversas, no dia 11 de novembro, onde participará do debate O mercado hoje na perspectiva dos ex-alunos da UFF. Hérica bateu um papo com o nosso blog e adiantou um pouco do que deve abordar no evento. Contou de seu ingresso no mercado de trabalho, da importância de se criar uma network e revelou curiosidades de sua vida acadêmica.
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Hérica com o seu primo, Erik Marmo, que também foi aluno da UFF.    Foto: Ego (Globo.com)


Como era a aluna Hérica Marmo na universidade?
Muito curiosa e atenta. Estava diante de um mundo completamente novo e queria tirar o máximo dele. Prestava muita atenção nas dicas que os professores e os veteranos davam. Aprendi muito, tanto na sala quanto nos corredores, bares e festas. Costumava me impressionar de estar pela primeira vez encontrando meu lugar no mundo. Eu me identifiquei muito com as pessoas que conhecia na faculdade e isso me dava certeza de que tinha escolhido a profissão certa. Era festeira também e um tanto popular. Por conta disso, topei participar do Diretório Acadêmico, seduzida pela diretoria social.
Então, você participou do movimento estudantil! Como profissional ainda consegue ter esse tipo de postura, ainda consegue ser atuante?
Participei, mas era muito ingênua. Hoje não me envolvo com nada. Eu me desiludi na primeira vez que Fernando Henrique se elegeu, ainda no primeiro turno, e nunca mais fiz campanha. E me desiludi ainda mais com todas as sujeiras descobertas no governo do PT. Não tenho motivação nem para votar, quanto mais para fazer campanha. Minha postura hoje é de ética e de exemplo, já que ocupo um cargo de liderança. Mas nada a ver com política.
Você disse que era muito curiosa e atenta. Acha que sua postura como aluna ajudou a construir sua carreira?
Acho, não. Tenho certeza. Como eu sabia ouvir, aprendi muito na faculdade. Minha primeira experiência numa redação foi cobrindo férias de um repórter, sem ter passado antes por estágio. E correspondi porque tinha aprendido na faculdade. E ainda hoje me lembro de muitas dicas que recebia e de lições que tirei das aulas no meu dia a dia profissional. A parte social também ajudou. Porque network é fundamental em qualquer profissão.
Como foi o seu ingresso no mercado de trabalho do jornalismo, a transição de estudante para profissional?
Fiz um estágio de dez meses na assessoria da Suderj. O trabalho em si tinha muito pouco de jornalismo, mas serviu para eu ver de perto como os repórteres trabalhavam e me ajudou a descobrir o que eu queria ser naquele momento: repórter esportiva. Depois que se foca, fica mais fácil direcionar sua carreira. Mas, por outro lado, quando se está começando não se pode desperdiçar oportunidades. Da Suderj, passei um mês na Andef, também na assessoria e também ligada a esporte. 
Como foi seu ingresso em redação? 
Surgiu a primeira chance em redação no jornal O Fluminense. Fui contratada antes de me formar e foi uma experiência muito positiva. Aprendi muito no dia a dia do jornal. Caí na editoria de cidade e depois num caderno de bairros, apesar de sempre deixar claro que queria fazer esporte. Mas as duas editorias foram muito importantes para me ajudar a crescer como repórter. Dois meses depois de finalmente ter conseguido uma vaga no esporte, fiz uma prova para o novo jornal do Globo, passei e fui contratada no Extra (que ainda não tinha nome). Foi uma oportunidade incrível ver nascer um jornal. Consegui ficar no esporte, por conta da minha experiência na Suderj e no O Fluminense, mas, principalmente, pela minha insistência com os editores.
Você tinha contatos que pudessem facilitar o seu ingresso no mercado de trabalho?
Facilitar, não. Mas, voltando à network, quanto mais gente você conhece na área, mais chances tem de ficar informado das oportunidades. Como eu estava no O Fluminense, por exemplo, soube da prova do Extra. Mas não tive ninguém abrindo as portas para mim, não.
Então, não é verdadeira essa história de que só se destacam na profissão os jornalistas que têm “padrinhos”?
Não. E eu sou uma prova disso.
Existe alguma coisa que você idealizou da profissão de jornalista e depois percebeu que na prática não era nada daquilo que tinha pensado?
Acho que não. Talvez eu não tenha acreditado muito no papo de que se trabalhava muito. E também não tive ninguém para me lembrar de que jornalista trabalha em Natal, Ano Novo e feriados (risos).
Você imaginava trabalhar num jornal online?
Quando eu me formei, internet era algo muito incipiente. Eu mal compreendia o que era um site. Então não planejava isso, não.
Acha que o futuro da profissão de jornalista é o online?
O futuro do jornalista está na informação e no meio que chegue ao leitor. Enquanto tiver leitor de papel, vai ter jornal. Se temos novos leitores na internet, temos que estar na internet. Se eles vão para as redes sociais, temos que ir pra lá também. Cada vez mais quem dita o lugar que a gente vai informar é o leitor. Mas o mais importante continua sendo a notícia e a credibilidade da sua informação.
Você disse que sempre quis ser repórter esportiva. A Sessão Extra trata de televisão, música e cultura em geral. Você também curte esse segmento do jornalismo? Acha que é mais fácil trabalhar com o que se gosta?
Eu sempre gostei de televisão, como espectadora, mas nunca imaginei trabalhar com isso. Fui parar na editoria por acaso. É mais fácil trabalhar com o que te motiva. Isso não precisa ser um gosto pessoal. Algo novo, desafiante, também pode te motivar. E aí você passa a gostar do que faz.
Em sua opinião, a não-obrigatoriedade do diploma de jornalismo conseguiu mudar (na prática) o cenário do mercado de trabalho, ou seja, mudou alguma coisa no perfil do profissional dentro das redações?
Na minha redação não mudou nada. Continuamos contratando apenas jornalistas formados. E acho que a maioria das empresas da grande mídia faz o mesmo. Então, não tenho como avaliar.
Você acha que o mercado de trabalho de jornalismo é muito fechado? Em sua opinião, como um jornalista consegue se destacar hoje?
Sim. O mercado é muito fechado. Eu costumo dizer que tive sorte porque me formei no momento em que estavam sendo criados dois jornais (Extra e Lance), duas revistas (Época e Quem) e uma TV de jornalismo (Globo News). E depois ainda teve o boom da internet. Foi o momento que o mercado esteve mais aberto. Mas eu ainda acredito que tem espaço para quem é bom, dedicado, sério. Porque tem muita gente fraca no mercado. Quem foca, batalha, dedica-se a aprender mais acaba se destacando. Além da já tão citada network, que pode ser feita na faculdade, cursos ou mesa de bar, o importante para quem está começando é não perder as oportunidades.
Você observa deficiências nos estudantes de jornalismo que chegam ao mercado de trabalho?
Sim. Eu observo que muitos recém-formados não sabem o básico para essa profissão: ler. Quem não lê, não tem condição de escrever, de aprender. Também sinto certa preguiça. Muitos se contentam com informações superficiais e com a oficialidade das assessorias de imprensa e se acomodam com as facilidades propiciadas pela internet.
Quais conselhos você daria a esses recém-formados?
Conselhos? Sejam incansáveis, obstinados, curiosos, leiam, desconfiem, questionem, aproveitem as oportunidades e, sobretudo, saibam ouvir e observar.
Uma curiosidade: Você disse que não acreditava no papo de que se trabalhava muito nessa profissão e viu que a realidade é exatamente essa. Mas além de trabalhar como jornalista, você escreveu dois livros! Como é que achou tempo para fazer isso?
Não sei se consigo te responder isso. É sério. Depois que passa, eu olho para os livros e não acredito que nasceram. É quase sobrenatural (risos)! Mas o fato é que enquanto estou mergulhada no livro, não durmo, não encontro os amigos, a família. E não consigo me concentrar em nenhuma conversa. Você vai falar comigo e qualquer coisa que diga vai me fazer lembrar algo que preciso desenvolver no livro. E o meu assunto nesse período não varia. É realmente muito difícil conciliar redação e livro. E não sei se conseguirei uma terceira vez. É excelente o resultado, mas muito desgastante.
Obrigado pela entrevista, Hérica. Até a Controversas!
De nada. Até lá!

3 comentários:

  1. A entrevista ficou excelente, Adriano. Parabéns. Larissa

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  2. Obrigado, Profª Larissa! A Hérica é muito simpática. Foi muito legal entrevistá-la.

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  3. "Eu observo que muitos recém-formados não sabem o básico para essa profissão: ler. Quem não lê, não tem condição de escrever, de aprender". Ouço isso dos profissionais de jornalismo o tempo inteiro. Pior, vejo isso na universidade o tempo todo! E muitos estudantes além de ignorar a leitura, deixam de lado um dos principais pré-requisitos para ser um bom jornalista: ouvir! Acham que têm muito a dizer e pouco para aprender. Tenho medo desses profissionais quando estiverem no mercado de trabalho. Todo mundo vai sair perdendo. Perde o jornalista. Perde o jornalismo. Perde a sociedade. Lastimável!

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