domingo, 31 de outubro de 2010

Orivaldo Perin: “O futuro já chegou”


Marco Vito Oddo
O editor executivo do jornal O Globo, Orivaldo Perin, acha que o jornalismo impresso pode se renovar em tempos de Internet. Assim como a tevê não matou o cinema, pelo contrário, o viu prosperar, as novas mídias não vão acabar com o jornal de papel, e sim criar novas formas de produzí-lo. Contudo, acrescenta que pode chegar um momento em que se torne mais vantajoso, do ponto de vista industrial, oferecer o produto “com cara de papel” nas telas de tablets digitais, por exemplo. O importante é que o profissional esteja preparado para atender o “consumidor da informação” no formato que ele deseja, curtinha no Twitter, maior no papel e aí por diante. 
Ao abordar o jornalismo como produto final de um processo empresarial determinado pelas margens de lucro, e consequentemente pela vontade do público consumidor, Perin suscita a discussão sobre os ideais da profissão nos dias de hoje. A utilização da palavra “produto” para o trabalho jornalístico, por exemplo, deveria trazer à tona a discussão sobre os objetivos primários de uma profissão que, por princípio, estaria ligada ao ideal iluminista de esclarecimento. Mas essa parte da conversa fica para a Controversas.
Destacamos alguns pontos importantes da entrevista, feita dias atrás durante o seminário “O JB que nós amávamos”, realizado na sede da ABI. Ouça a entrevista completa:



 Como fica o futuro do jornal impresso com o aparecimento do jornalismo online?
Quando nasceu a televisão, todo mundo dizia ‘Vai matar o cinema’. O cinema reaqueceu depois da televisão. (...) Eu acho que a Internet, e todas essas possibilidades que ela está oferecendo, vai produzir o mesmo efeito no jornal impresso.
 A acumulação de tarefas dentro das redações, com jornalista produzindo para diversos veículos ao mesmo tempo, prejudica a qualidade da informação?
 Não (…) Como é que o consumidor quer receber a informação? (...) Se ele quer no iPhone, no celular vai ser curtinha. Se ele quer no papel, vai ser um pouco maior. O profissional tem que se preparar para essa nova realidade.
 Deve existir uma remuneração para o material amador aproveitado pelo jornal? Afinal, a empresa jornalística está utilizando sua marca, com grande peso de venda, para lucrar com uma produção adquirida gratuitamente.
Essa discussão está começando a acontecer nas empresas. (...) Às vezes o vídeo mais visto no site de um jornal é de uma câmera em um posto de gasolina que filmou um assalto. Como é que você remunera isso? Não remunera? Essa discussão está apenas engatinhando.
 

2 comentários:

  1. Grande colaboração do Marco para a turma de Hipertexto. Obrigada! Larissa

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  2. "A utilização da palavra “produto” para o trabalho jornalístico, por exemplo, deveria trazer à tona a discussão sobre os objetivos primários de uma profissão que, por princípio, estaria ligada ao ideal iluminista de esclarecimento". Tenho a impressão de que alguns estudantes muitas vezes se esquecem do papel social fundamental de nossa futura profissão. Eu tenho muitos amigos que adoram tirar sarro porque o diploma de jornalismo deixou de ser obrigatório. Na enquete do nosso blog sobre a necessidade de jornalismo 35% dos votos dizem que o diploma não é imprescindível. Será que todas essas pessoas se dão conta de que tirar o futuro jornalista do ambiente universitário, onde se desenvolve uma visão crítica e adequada da sociedade, contribui para afastar cada vez mais o jornalismo de seu ideal iluminista. Que espécie de profissional vai passar a mediar as relações dos cidadãos com o poder ? Tenho receio de ouvir essa resposta!

    PS: Mandou bem na entrevista Marco Vito! Show!

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