quarta-feira, 15 de junho de 2011

Renata Xavier: Fotografar um casamento tem a mesma adrenalina de fotografar um evento para um jornal

Túlio Clemente de Andrade


Com vários prêmios internacionais de fotografia de casamento no currículo, Renata Xavier começou sua carreira bem longe das cerimônias. Formada em Cinema e Publicidade pela Universidade Federal Fluminense, a fotógrafa atuou no jornal O Globo e em revistas como Contigo, Super Interessante, Playboy e Quem. Renata, que estará no Controversas nesta quinta-feira, contou para o blog como foi trocar o fotojornalismo pela cobertura de casamentos, falou sobre o mercado de trabalho e ainda deu várias dicas para quem pretende seguir a carreira fotográfica.

Você tem formação em Cinema e Publicidade pela Uff, não é? Quando e por que decidiu investir no fotojornalismo?
Fiz os dois cursos na UFF. Quando entrei na faculdade queria fazer direção de cinema para contar histórias, e tudo mudou quando fiz a matéria Linguagem Fotográfica com o Professor Antônio Júnior. Fiquei absolutamente fascinada pela fotografia. Percebi que através da fotografia poderia contar histórias de maneira mais simples e sem a necessidade de uma super estrutura como no cinema.
Durante a faculdade cursei todas as disciplinas relacionadas à fotografia. Fui monitora do Antônio Júnior e do Miguel Freire na disciplina Linguagem Fotográfica e do Dante Gastaldoni em Fotojornalismo. Aprendi muito com todos eles, e acabei tendendo para o Fotojornalismo. Ser fotojornalista é participar da história diariamente. É estar no coração dos fatos. É contribuir através do seu olhar, sensibilidade e bagagem cultural para que a história seja contada. É decidir o que deve e o que não deve ser fotografado e como deve ser fotografado. Queria participar da história e por isso acabei indo aos poucos para o fotojornalismo.

Como foi trocar o fotojornalismo pela cobertura de casamentos?
A visão que tinha da fotografia de casamento era daquelas fotos posadas, sem emoção, bem tradicionais mesmo. Durante o período que trabalhei no O Globo vi alguns casamentos fotografados pela Marizilda Cruppe e fiquei surpresa com as imagens. Havia tanta emoção, tanta felicidade, tantos momentos especiais... Estava vivenciando aquilo, pois em 2004 queria casar com o Leandro Lucas, meu namorado há 10 anos, e ver aquelas imagens me despertou. Poucas pessoas faziam esse tipo de trabalho no Brasil e uma delas era o Renato Moreth um fotógrafo daqui da minha terra (Niterói). Ele possui um trabalho incrível e há mais de 30 anos fotografa casamentos com essa linguagem espontânea e numa linha mais fine art. Conversamos muito e ele foi o meu grande incentivador, amigo e mentor nesse mundo de fotografia de casamento.


"Percebi que através da fotografia poderia contar histórias de maneira mais simples e sem a necessidade de uma super estrutura como no cinema"

Qual é a principal diferença em fotografar para um jornal e fazer a cobertura fotográfica de um casamento ou de uma gravidez?
Para mim, fotografar um casamento tem a mesma adrenalina de fotografar um grande evento para um jornal. Se você perdeu o momento, já era, ele não volta mais. Tem que se estar atento o tempo inteiro e em busca de imagens únicas que passem uma mensagem, uma emoção. É tudo muito rápido e as pessoas estão preocupadas em aproveitar aquele dia e não em tirar fotos o tempo inteiro, por isso temos que literalmente caçar as imagens. São muitas horas de trabalho no dia e depois existe uma pós-produção grande para que a história daquele casal seja contada da melhor forma possível. As fotografias de grávidas e de famílias são mais tranquilas, o ambiente é controlado seja num estúdio, numa casa ou numa externa. Você dirige as pessoas que estão relaxadas e tem tempo. Todos estão disponíveis para a fotografia, qualquer coisa é só pedir que as pessoas fazem e repetem se necessário.

Quais são os principais campos de atuação no mercado fotográfico atualmente?
Hoje é tudo tão metamórfico. São tantas as oportunidades a serem exploradas, ao mesmo tempo algumas das vertentes clássicas estão em um momento de transição. Não sei ao certo o que vem por aí. Só sei que a fotografia sempre existirá seja ela estática ou em movimento. Os campos de atuação serão variados de acordo com a capacidade dos fotógrafos em conseguirem reinvetar a sua própria profissão e mostrar para a sociedade as diversas possibilidades que hoje existem ou que possam vir a existir. Eles também devem olhar para a sociedade para ver quais são as demandas e criar em cima do que as pessoas e empresas buscam. Vejo que a fotografia documental, fotografia comercial e a fotografia social, muitas vezes se fundem ou tomam caminhos e subdivisões diversas. É tudo muito fluido. Existem os mais diversos ninchos.


"É bom saber que daqui a 50 anos as imagens que produzimos terão um valor inestimável para as pessoas que fotografamos"


O que você acha do fotojornalismo hoje?
O fotojornalismo nos grandes jornais está num momento de transição, não sabemos ao certo para onde vai. Infelizmente as grandes reportagens estão cada vez mais raras. Sobram mais os assuntos de dia a dia como buracos em ruas, comidas em restaurantes, personagens, etc. Mas ainda assim, em meio a rotina de um jornal, grandes coisas acontecem e vira e volta surgem imagens especiais. Torço para que novas possibilidades surjam com a proliferação dos Ipads e novas tecnologias. Existem trabalhos independentes também fora dos grandes jornais que se proliferam na web. Vamos ver no que vai dar.


E da fotografia de casamentos?
As famílias sempre existirão e as pessoas sempre se casarão. Com a situação econômica do país mais estável, mais pessoas se casam a cada ano e mais fotógrafos surgem nesse mercado. Fotografar casamentos exige muita dedicação e um ritmo de trabalho muito intenso, mas é bom saber que daqui a 50 anos as imagens que produzimos terão um valor inestimável para as pessoas que fotografamos. Essas imagens são um legado e a história do nascimento daquela família. São o retrato de uma época e da felicidade vivenciada por eles.


"Tem que se estar atento o tempo inteiro e em busca de imagens únicas que passem uma mensagem, uma emoção"

Que dicas daria aos alunos que desejam seguir a carreira fotográfica?
Estudem muito, pratiquem muito, busquem livros, filmes, exposições, viagens, workshops e tudo mais que enriqueça a sua mente de ideias. Busquem inspiração fora da fotografia também. Conversem com outros fotógrafos mais experientes e respeitem o legado e história que construíram. Sejam humildes. Sempre tentem se diferenciar e usem a criatividade para fazer da sua maneira. Fujam de modismos. Imprimam a sua marca em suas imagens, tornem-se únicos. Estejam sempre em desenvolvimento, sempre aprendendo.



No Controversas, você irá participar da mesa junto com Marcelo Carnaval, seu ex-colega de trabalho quando atuava no Jornal O Globo. Qual sua expectativa em relação ao evento?
Vai ser uma festa! Adoro o Dante (Professor da Uff e mediador no Controversas) e o (Marcelo) Carnaval! Foram pessoas muito importantes na minha formação como fotógrafa e tenho muito carinho por eles. Estou ansiosa para reencontrá-los!



Obrigado pela entrevista. A gente se encontra no Controversas.

Clique aqui e confira a rotina de trabalho de Renata Xavier no especial Diários de carreira, no Globo Online.

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