sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cobertura Olímpica em debate na UFF

Catherine Lira
Elisa de Magalhães

O jornalismo esportivo no Brasil deve passar por grandes mudanças nos próximos seis anos. Com a proximidade dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, os cadernos de esporte e jornais especializados terão que dar maior atenção para outros esportes além do futebol. O assunto foi discutido dia 9 de novembro na mesa “A cobertura de esportes no cotidiano e em grandes eventos”, parte do evento Controversas, organizado por alunos e professores do curso de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense.

Da esquerda para a direita: PC Vasconcellos, Manoella Penna,
Roberto Falcão, Eduardo Tironi e Gilmar Ferreira

O debate contou com a participação do editor de Mídias Digitais do jornal Lance!, Eduardo Tironi, o chefe de redação do canal SporTV, Paulo César Vasconcellos, a assessora do Comitê Paraolímpico Brasileiro Manoela Penna e Gilmar Ferreira, responsável pelo Departamento de Esportes da Rádio Globo. Os convidados falaram sobre o papel da assessoria de imprensa, a importância do futebol e a paixão pelo jornalismo, além das expectativas em relação à cobertura jornalística para os Jogos de 2016.

Para Manoela Penna, o jornalismo esportivo passa por uma ótima fase, sobretudo com a inserção de uma nova geração no mercado, preparada para trabalhar com o esporte profissional. “Temos preparado toda uma geração de jornalistas; conseguimos um olhar mais apurado e profissional sobre o esporte”, disse. 

Jornalismo esportivo tende a ganhar espaço  - Eduardo Tironi por sua vez acredita que há transformações em curso desde o anúncio dos Jogos. O editor apontou a criação do caderno de esportes do jornal O Globo como exemplo disso, e afirmou que o jornalismo esportivo deve ganhar ainda mais destaque com o passar dos anos. A opinião de Tironi é compartilhada por Paulo César Vasconcellos, que acrescentou ser crucial a preparação dos jornais para 2017, quando o Brasil não for mais protagonista esportivo.

A questão da abordagem de outros esportes também foi levantada durante a etapa de perguntas da plateia. Questionados sobre o excesso de espaço dado ao futebol em detrimento de outros esportes, os convidados foram unânimes ao afirmar que a bola rolando é o que interessa ao leitor brasileiro. 

O que não é futebol desperta pouco interesse - Apesar de frisar que uma cultura multi-esportiva deve ser desenvolvida para as Olimpíadas, os debatedores declararam que o grande responsável pelas vendas é o futebol. Manoela usou como exemplo os primeiros anos do Lance!, que foi criado como um jornal poliesportivo, mas voltou-se para a paixão nacional ao perceber que não havia demanda.



Gilmar Ferreira, com Tironi e Falcão à esqueda: declarações polêmicas
 sobre a atuação dos assessores de imprensa no jornalismo esportivo
Vasconcellos acredita que o desempenho de atletas brasileiros em outras modalidades influencia no interesse dos leitores. Em sua opinião, o brasileiro gosta mais de vencer do que de outros esportes. Gilmar Ferreira concorda com os colegas e afirma que o papel do jornal é mostrar o que é do interesse do público. “O jornal mostra paixões, o resto é hierarquia da informação”, declarou. 

Mais importante do que ser bom jornalista esportivo é ser bom jornalista - Além do futebol, a paixão pelo jornalismo também foi abordada. Para Gilmar, muito mais importante do que escrever sobre esporte é a própria profissão de jornalista. O radialista afirma estar feliz em sua função, mas confessa que estaria feliz em qualquer outra editoria. Tironi concordou com o colega, e completou ao dizer ser importante lembrar que o jornalismo é, antes de tudo, a busca da verdade. Tironi se disse contente em poder participar de uma mesa em um a universidade, e aproveitou para fazer um apelo aos estudantes: “Leiam muito, mais do que os 140 caracteres do Twitter!”.

Gilma Ferreira disse que não gosta de assessores de imprensa - Em um debate tranquilo, a única polêmica ficou por conta de Gilmar Ferreira, que disse não gostar de assessores de imprensa. A revelação veio depois da resposta de Manoela a uma pergunta sobre o papel da assessoria de imprensa. A assessora, sócia fundadora da empresa MediaGuide, explicou que sua função não é evitar o atrito entre jornalistas e atletas, mas ensinar seus cliente a lidar com a imprensa. Declarou também não considerar jornalistas seus aliados, sem, no entanto colocá-los no papel de inimigos. 

Gilmar discordou da convidada ao afirmar que “os assessores mentem e escondem informações” e que prestam um desserviço ao jornalismo, mas explicou que a assessoria de jogadores de futebol é diferente do serviço prestado para outros esportes. Enquanto atletas olímpicos procuram um pequeno espaço na imprensa, a maior parte de jogadores de futebol tem mídia própria. A opinião de Gilmar teve respaldo de Paulo Vasconcellos, que declarou ser difícil encontrar uma boa assessoria no caso dos profissionais do futebol. 

Amizade com a fonte pode atrapalhar jornalista - Já Eduardo Tironi deu importância para os conflitos com a fonte. Segundo o editor, é importante ter uma boa relação com os entrevistados, porém a amizade excessiva pode atrapalhar o trabalho do jornalista. A mesa, que teve a participação de diversos estudantes de vários períodos de comunicação, provocou positivamente os jovens, que em grande número fizeram perguntas e apresentaram pontos de vista.


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