segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Para Solange Duart, do Globo, o mercado tem espaço para bons jornalistas

Marcela Sorosini e Renata Monteiro

Uma das questões que mais preocupam os jornalistas atualmente é o mercado de trabalho. Essa preocupação é ainda maior por parte dos jovens que convivem com os comentários de que o mercado de trabalho jornalístico está saturado. Hoje em dia os processos seletivos são cada vez mais exigentes e as empresas buscam jornalistas que possam atuar em diferentes mídias, com suas respectivas linguagens.
A jornalista Solange Duart, redatora da secretaria de redação do jornal O Globo, avalia que a área profissional é bastante competitiva, porém as possibilidades de ingresso no  mercado aumentam de acordo com a qualificação e a dedicação do profissional. 
A jornalista estará presente na Semana de Jornalismo da  UFF - Controversas - no dia 10 de novembro,  a partir das 16  horas, para participar de um debate sobre questões relacionadas ao mercado de trabalho com Thomas Traumann, diretor executivo da FSB Comunicações, Mariana Araújo, repórter do Observatório das Favelas, e Suzana Blass, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro.
Solange Duart trabalha no Globo desde 1985 e, antes de assumir a função que desempenha hoje em dia, trabalhou durante um ano em um suplemento de bairro do jornal. Depois passou para a editoria Rio, da qual saiu em abril deste ano. Segundo a jornalista, a tendência é que o  número de oportunidades para os jornalistas aumente, mesmo com o acúmulo de funções por parte dos profissionais e a integração de diferentes mídias. Em 2006, Solange publicou um conto no livro Parem as máquinas – Jornalistas que valem mais de 50 contos.

Atualmente, como a senhora analisa o mercado de trabalho para os jornalistas?
O mercado de trabalho está bastante restrito, mas na minha opinião isso vai começar a melhorar por conta da Internet. No início, todos temiam que a rede tirasse o emprego dos jornalistas, o que de fato aconteceu, mas com o passar do tempo a maneira como se está lidando com o “online” está  bastante diferente. O Globo, por exemplo, está lidando com as mídias sociais de uma maneira bastante interessante, usando o jornal para falar da Internet, usando a Internet para falar do jornal, usa a televisão para divulgar o rádio, enfim, está havendo uma integração total dos meios, o que eu julgo muito positivo. Por conta dessa grande integração, acho que o Globo terá que admitir mais pessoas, o que será muito bom para os profissionais da área. 

Quais as áreas com maior número de oportunidades? Em que áreas há menos espaço? 
Acho que o maior número de oportunidades está na área de assessoria de imprensa, o menor no jornal impresso.

A senhora acredita que as universidades estão formando mais jornalistas do que o mercado pode absorver?  Isso pode prejudicar o mercado de trabalho?
Eu acredito que não, há espaço no mercado para bons jornalistas, tudo é a questão da qualidade desses profissionais. Uma coisa que poderia ser prejudicial ao mercado é a qualidade de alguns cursos de comunicação social de algumas faculdades, entretanto, o próprio mercado é seletivo com esses profissionais. O próprio mercado filtra esses profissionais que não estão devidamente preparados.

Para ingressar em uma boa empresa a exigência está muito grande. Os candidatos passam por processos seletivos longos e muito disputados.  A senhora acredita que com o passar do tempo essa exigência está cada vez maior?
Com certeza, o mercado está cada vez filtrando mais os profissionais. Isto está acontecendo por conta da grande quantidade de jornalistas, então para conseguir uma vaga o profissional tem que estar cada vez mais capacitado. Algumas características são fundamentais em um jornalista hoje em dia, como, por exemplo, saber falar outros idiomas. O jornalista hoje que não sabe inglês não consegue fazer quase nada, e se souber outra língua, melhor ainda. O mercado está cada vez mais exigente porque pode ficar exigente. A oferta de profissionais é muito grande, então os jornais buscam escolher os melhores.

Outra tendência do jornalismo atualmente é ter um profissional que desempenhe diversas funções. Como a senhora observa esse acúmulo de funções pelo jornalista? Esse excesso de funções não pode comprometer a qualidade do trabalho?
Tudo na vida tem dois lados pelo menos. Então, de certa maneira, esse acúmulo de funções restringe o número de profissionais, porque se eu posso ter um profissional que escreve e fotografa, para que terei um que só fotografe e um que só escreva? Ter profissionais mais completos é bom para o mercado, mas também é bom para o próprio profissional, que vai ter uma visão mais ampla, o que é positivo no jornalismo. Eu não acho que esse acúmulo de funções interfira tanto no desempenho do profissional, pois hoje em dia temos a internet, que faz as coisas serem muito mais rápidas.

O que a senhora pensa a respeito do fato dos jornalistas estarem virando Pessoa Jurídica (PJ) para receber? Isso de certa forma desvaloriza o profissional?
Isso está acontecendo mais na televisão. Nos jornais, se tiver os que adotam essa prática, são poucos. Isso é uma exigência do mercado e não vejo muitos problemas nisso. Qual a diferença de um profissional que tem uma empresa ou que seja assalariado? Desde que ele seja pago, bem pago, para exercer sua profissão com dignidade, eu não vejo problemas.

Quais conselhos a senhora daria para os jornalistas mais jovens, que estão entrando no mercado de trabalho?
Postura e ética são as principais características que os jovens profissionais devem ter. O jornalista tem que ser muito ético, não pode comprar a briga de ninguém e muito menos defender um ou outro lado. O jornalista não pode se incomodar com o que os outros dizem, não deve usar de subterfúgios ou armadilhas para conseguir uma boa matéria. O seu caráter precisa vir em primeiro lugar. Outra coisa  muito importante é a leitura. O jornalista deve ler muito, e ler de tudo um pouco, pois é isso que o mercado quer, jornalistas que escrevam bem e que sejam bem informados.

Um comentário:

  1. "Acho que o maior número de oportunidades está na área de assessoria de imprensa, o menor no jornal impresso". Assessor de imprensa: um dia todo mundo vai ter o seu! Rs

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